12.9.07

Lixo de papel

Estou a escolher livros para dar, vou dar à Biblioteca Municipal, se não interessarem eles que os deitem no papelão que eu não tenho coragem.

Estava quase a pôr o livro "Neve de Primavera" de Yukio Mishima no monte dos "para dar" quando me salta um pedaço de papel com a seguinte anotação que tirei do livro:

"...quando nos anos vindouros pararem para pensar nos nossos tempos, tu, com toda a tua sensibilidade serás identificado com esta gente. Sabes, é a maneira mais fáci de se estabelecer a essência da nossa era... toma-se o mais baixo denominador comum.

...os que virão depois de nós e decidirão o que nos ia pela cabeça, adoptarão o critério dos padrões críticos de pensamento dos teus amigos de quendo. Ou seja, regular-se-ão pelos credos mais primitivos e populares dos nossos dias..."

Pois é, a História encarrega-se de nos fazer todos iguais.

9 comentários:

Mushu disse...

As coisas que ela lê! Eu é mais BD.

:P

Artur Torrado disse...

Não sei se será bem assim. A história que eu aprendi quase só falava de reis, que terão sido uma relativa minoria. Parece-me mais que a história é escrita pelos vencedores, o que não deixa de ter a sua justiça, e ignora os que não 'colaboraram'. Ao que sei o Yukio não quis esperar para ficar na história banal, preferindo o reino dos samurais. Lembrei-me dele quando há uns meses vi "as cartas de Iwo Jima": uma história contada pelos vencedores...

Mónica disse...

leituras diferentes :D
penso que aqui n se trata de relatar a vida das pessoas (aí sim os reis e outros q tais é q entram na História) aqui trata-se de realçar que as minorias (de pensamentos e de actos) ficarão esquecidas na História, a não ser que algo trágico as identifique.
isto é, seremos todos um todo igual e determinado pela "moda" pelo olhar que os vindouros terão dessa "moda"

Mushu disse...

ah... tava a ver quem seria o Ar Torturado... já vi.

ivamarle disse...

nessas coisas, acho que a Elipse é capaz de ter mais "arcaboiço intelectual" para te responder, cá por mim já estou como o outro:"Só sei, que nada sei"...

Artur Torrado disse...

Estou de acordo contigo, Mo. Estava a pensar na maneira como olhamos para o 'loucos anos vinte' e não me custa imaginar que aquilo que ficou como 'imagem de marca' dessa era corresponde à imagem que os poderes sucessivos quiseram realçar. Mas também não me custa imaginar que noventa e nove por cento da população da época viveu outras loucuras bem mais miseráveis que a que se tornou 'marca' (a História só fala da peste e da miséria quando assumem condicionantes políticas). Serve esta ideia para reforçar que o que fica na memória dos povos não é necessariamente "o mais baixo denominador comum" mas outra coisa qualquer que o acaso determina. A angústia de Mishima era a angústia típica dos que se preocupam demasiado com a posteridade e em 'ficar na História'. E reconheço que funcionou: a angústia produziu uma escrita que transpôs as fronteiras do Japão e Mishima ficou na história da literatura de várias maneiras. Talvez, se ele pudesse ter esperado com paciência, tivesse ganho o Nobel, e fosse hoje um velho sábio respeitado...

Mónica disse...

sim :D
gostei dessa frase "A angústia de Mishima era a angústia típica dos que se preocupam demasiado com a posteridade e em 'ficar na História'"
dá que pensar

mas apetece-me brincar: mishima conseguiu pela escrita e pelo suicidio, açambarcador! se calhar tb era homossexual, lá tá basicamente 3 factores a favor :D

Artur Torrado disse...

Exactamente... por isso não dês o livro para a biblioteca: ainda algum miúdo o lê. Se 'eles' se apercebem que as audiências dos morangos com açúcar baixam, vão à procura dos responsáveis...

Mónica disse...

este n foi pq as páginas tão a soltar-se da lombada, cólidade livrária :D